Morreu Billy Graham, o "pastor da América"

O conselheiro de Presidentes e televangelista que se tornou um dos mais importantes líderes religiosos mundiais morreu aos 99 anos.
"Foi provavelmente o líder religioso mais importante do seu tempo", comentou à Reuters William Martin, autor da biografia A Prophet With Honor: The Billy Graham Story. "Não terá havido mais do que um dois Papas, ou talvez uma ou duas outras pessoas, que se tenham aproximado do que ele conseguiu."
Encheu estádios, em eventos aos quais chamou “cruzadas”, recorda o New York Times. Nos seus tempos áureos, disparava discursos de uma oratória rápida e inflamada que lhe valeram a alcunha "Metralhadora de Deus". Espalhou a sua influência através de “convicção religiosa, presença de palco e perspicaz uso dos meios e tecnologias de comunicação”, diz o jornal de Nova Iorque. A última dessas cruzadas foi em 1995, em Nova Iorque.
A partir dos anos 1950, os evangélicos a reconquistar influência social face aos católicos e protestantes, invertendo a tendência de recuo que se iniciou após o célebre julgamento Scopes, em 1925, em que radicais religiosos tentaram desafiar a teoria da Evolução através da Selecção Natural de Charles Darwin, e impedi-la de ser ensinada. Semeou o terreno para o crescimento da direita conservadora americana. 
No entanto, nos últimos anos Graham afastou-se do movimento político evangélico que ajudou a criar e evitou os temas polémicos caros aos conservadores religiosos.
Foi uma sólida voz anticomunista, apoiou a guerra do Vietname e opôs-se aos protestos à continuação da guerra. Após o fim da Guerra-Fria, visitou a União Soviética duas vezes, e levou as suas cruzadas à Europa de Leste e à China. Em 1990, subiu ao topo do Muro de Berlim e autoproclamou-se "embaixador do Reino de Deus".

Devia ter ido a Selma

Foi um apoiante de Richard Nixon - a sua voz surgiu em gravações secreta de Nixon, divulgadas apenas em 2002, em que fazia afirmações antissemitas, pelas quais pediu desculpa. Os dois homens diziam que os "judeus liberais" controlavam os media e eram responsáveis por disseminar pornografia.
Graham pediu desculpa e disse que ouvir-se, passados todos aqueles anos, tinha sido "o maior choque" da sua vida.
Apesar de ter começado como um segregacionista, o que estava de acordo com o conservadorismo das suas origens do Sul fundamentalista dos EUA, teve uma evolução. Não apoiou o movimento dos direitos civis dos anos 1960, sublinha o Washington Post. Mas, numa entrevista em 2005, à Associated Press, antes da sua "cruzada" final em Nova Iorque, disse que um dos seus grandes arrepedimentos era não se ter juntado a essa luta. 
"Acho que errei ao não ter ido a Selma", com outros líderes religiosos que se juntaram à histórica marcha no Alabama conduzida por Martin Luther King. "Gostava de ter feito mais", disse