‘Há interesses escusos’ na Lava Jato, diz Dilma
Um dia depois de Lula ter declarado que a Lava Jato
“tem dedo estrangeiro”, Dilma Rousseff ecoou o criador ao discursar num
seminário na Espanha, nesta quarta-feira. Expressando-se num idioma próprio,
que mistura português com espanhol, a presidente deposta declarou que “há
interesses escusos” na Lava Jato. Disse que a operação tem o deliberado
propósito de “inviabilizar empresas” brasileiras. “Não é algo gratuito”, ela
acrescentou. O objetivo, insinuou Dilma, é beneficiar empresas estrangeiras.
(assista ao vídeo no rodapé do post)
Dilma injetou a Petrobras em sua prosa: “As grandes
empresas brasileiras de construção, hoje, estão sem dúvida nenhuma
interditadas. Aí acontece algo muito interessante: a Petrobras abre um processo
licitatório recente. Quem comparece? Nenhuma das grandes empresas brasileiras.
Por quê? Porque estão presas. Quem comparece? Grandes empresas internacionais
de construção. Entra-se na internet. Coloca-se o nome de cada uma das empresas.
E coloca-se corrupção ao lado. Aparecerão todos os processos em que elas foram
julgadas. E estão, inteiras, participando.”
Dilma tratou o Brasil como um país exótico: “O
Brasil tinha grandes empresas construtoras. Nos Estados Unidos, na Europa, em
todos os lugares do mundo se combate a corrupção não destruindo as empresas,
mas prendendo os executivos. Prendem-se os executivos, punem-se os executivos.
Eles têm de ser punidos, não as empresas, que são instituições, nem os partidos
também.”
Madame soou como se estivesse alheia ao que se
passa em seu país. Absteve-se de recordar que os executivos das construtoras
foram presos. Alguns permanecem atrás das grades, como o agora delator Marcelo
Odebrecht. Outros encontram-se em prisão domiciliar.
Dilma fingiu desconhecer também o fato de que
empresas como a Odebrecht firmaram acordos de leniência no Brasil e em outros
países —entre eles os Estados Unidos. Por meio desses acordos, as construtoras
purgam os seus crimes, devolvem dinheiro amealhado à margem da lei e se
credenciam para voltar a operar. Tudo conforme previsto em legislação aprovada
e sancionada durante o governo da própria Dilma.
A ex-presidente petista participou, na cidade
espanhola de Sevilha, de um seminário chamado “Capitalismo neoliberal,
democracia sobrante”. Nesse título, “sobrante” é aquilo que é deixado de lado.
Dilma repetiu além-mar todo o lero-lero que os brasileiros já se fartaram de
ouvir: foi vítima de um “golpe parlamentar”, o governo do PMDB é “ilegítimo”, o
PSDB fez parte da trama, só eleições diretas restabelecerão a democracia, Lula
é perseguido e todo aquele imenso etcétera.
“Creio que é possível que haja uma tentativa de
golpe dentro do golpe”, afirmou Dilma a certa altura. “É inviabilizar a eleição
democrática prevista no Brasil para 2018.” Como assim? “Uma pessoa surge com
uma grande possibilidade de ser reeleito: Lula da Silva. Lula é para eles,
golpistas, um grande perigo, porque tem toda sua carga de realizações e o
reconhecimento de uma parte da população.”
Sem mencionar os cinco processos em que Lula figura
como réu, Dilma prosseguiu: “Tentaram destrui-lo de todos os jeitos. Fazem
pesquisas. E ele está na frente. Então, há grande risco de que eles tentem
inviabilizar sua eleição, condenando-o. Para que ele não seja candidato, tem
que condená-lo duas vezes.”
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